sábado, 27 de novembro de 2010

Rendições



Você acha brega? Eu acho, mas isso nem é tão importante. Gosto da energia declamatória da voz junto com a mensagem clara e direta da letra. Esse conjunto forma uma rendição, uma desistência. Só entende disso quem já chegou ao fundo do poço e resolve que tudo será diferente. Que a partir daí rifará seu coração à quem der mais, a procura de amor, carinho e paz.
Você já se rendeu?

Eu Vou Rifar Meu Coração
Lindomar Castilho

Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Vou vendê-lo a alguém
Não vou deixar o coitadinho
Viver sempre sem carinho
Ficar sempre sem ninguém
Amanhã mesmo eu vou sair
Sem saber aonde ir
Pelo mundo à procura
Não me interessa a riqueza
Não me importa a pobreza
Quero alguém que saiba amar
Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Vou vendê-lo a quem der mais
Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Por amor carinho e paz

Etta James - Stormy Weather



Meu amigo  Daniel considera essa a versão definitiva de Stormy Weather. Eu concordo.
Bom final de semana.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Para abrir o fim de semana



Para abrir um final de semana tranquilo e despretensioso.
Louis Armstrong - West End Blues
Aproveitem!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O silêncio da política e a política do silêncio



Este texto trata de política, um tema que não gosto de abordar pelas paixões que costuma despertar, mas evitá-lo tem me feito mais mal do que bem.

Passou-se a eleição e já sabemos os resultados. Eu votei no Serra, mas não vou aqui entrar no mérito de cada candidato porque já aprendi que essas discussões são estéreis. Não se discute as convicções de quem está predisposto a uma ou outra ideologia, partido ou, seja lá o nome que se dê a essa confusão que chamamos de política. As convicções pautam os jornais, o trabalho, a interpretação das notícias, as conversas nos bares e até as compras do supermercado. Cada opção de vida será tomada para reforçar aquilo em que já se acredita. Vale pra mim, vale pra você.

Nesses últimos meses tenho observado e tentado entender se é só isso que leva à absoluta arrogância que predomina em nossa cena política. Vejo postagens rasteiras nas redes sociais, vejo um governo incentivando a violência contra um candidato, vejo o patrulhamento das redações de jornais através avalanches de e-mails para tentar pautar suas matérias, vejo a Justiça frouxa com a legislação eleitoral, vejo os candidatos mentindo sobre seu passado e nenhuma voz firme para contrapor os fatos.

Tudo isso vem sendo justificado através da moral do bem, que lá no passado forjou aquela convicção de que falei há pouco. Mas há de se ter cuidado aí. Todo estado absolutista começa com boas intenções, como já nos preveniu Bernando Bertolucci quando disse - “O facismo começa caçando tarados.”. Há épocas em que as boas intenções vêm embrulhadas pelo progresso, em outras pelo social, noutras pela ecologia... mas sempre há um embrulho dominante que evita de se pensar no todo e que invariavelmente mata a boa causa que outrora lhe deu origem. O embrulho que mais render votos e estabilidade no poder será a bandeira de guerra. Há claro, nosso atual presidente, que usa várias bandeiras, mas em nenhuma acredita. Usa aquela que lhe convém para manipular a platéia que o ouve, e conta com o silêncio da oposição para tornar-se virtualmente inimputável, independente dos absurdos que faça.

É no silêncio do contraponto frente à prepotência das convicções que reside a ameaça à democracia. Somente esse silêncio explica o resultado dessas eleições. O silêncio frente aos desatinos é visto pelo agressor convicto como um tiro derradeiro e correto que desferiu contra o adversário.

Quando as pessoas calam, as instituições que tem o papel de equilibrar a vida social também começam a calar. Quando as pessoas calam, reforça-se o ego de quem tombou frente suas crenças arraigadas. Quando as pessoas calam, a unanimidade se espalha e logo ninguém mais consegue pensar fora da agenda. Quando as pessoas calam, o maniqueísmo impera e as gradações entre o preto e branco deixam de existir (ou vermelho e azul, caso prefiram). Quando as pessoas calam, outras cores nem são consideradas e os debates passam a ser agendados por essa mediocridade que parece ser a única via existente.

Nesse cenário, ser combativo, fazer oposição, denunciar o mal que aí está passa a ser considerado imoral, passa a ser patrulhado. A situação no Brasil deseja não ter oposição. Para ela só há dois lados, o de dentro que deve concordar com tudo e o de fora, que deve ser eliminado. Para eliminá-lo começa “caçando os tarados”... ou dizendo que só jogou bolinhas de papel! Invariavelmente a vítima passa a ser a culpada.

Os convictos apaixonados não acreditarão nos fatos, mas nas versões. Terão alguma ponta de dúvida? Não, estão moralmente lavados pelas boas intenções. Serão somente os fracos e pouco esclarecidos que embarcarão nesse transe? Não, o poder das convicções tomba até mesmo os grandes homens, que acabam por sentir necessidade de diminuir os outros (talvez porque esquecidos que de suas virtudes).

Diante disso, o que fazer? Em minha opinião, só uma coisa: abandonar a política do silêncio.

Enfim, este texto já está longo demais, começa a parecer pregação. Não é para ser o caso. Cada um que acredite no que quiser, vote em quem quiser, escreva o que quiser. O objetivo é só o de lembrar a mim mesmo que tenho uma voz. Se lhe causa ou não algum eco, tanto faz. Até aqui já cumpriu seu papel.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010