Este texto trata de política, um tema que não gosto de abordar pelas paixões que costuma despertar, mas evitá-lo tem me feito mais mal do que bem.
Passou-se a eleição e já sabemos os resultados. Eu votei no Serra, mas não vou aqui entrar no mérito de cada candidato porque já aprendi que essas discussões são estéreis. Não se discute as convicções de quem está predisposto a uma ou outra ideologia, partido ou, seja lá o nome que se dê a essa confusão que chamamos de política. As convicções pautam os jornais, o trabalho, a interpretação das notícias, as conversas nos bares e até as compras do supermercado. Cada opção de vida será tomada para reforçar aquilo em que já se acredita. Vale pra mim, vale pra você.
Nesses últimos meses tenho observado e tentado entender se é só isso que leva à absoluta arrogância que predomina em nossa cena política. Vejo postagens rasteiras nas redes sociais, vejo um governo incentivando a violência contra um candidato, vejo o patrulhamento das redações de jornais através avalanches de e-mails para tentar pautar suas matérias, vejo a Justiça frouxa com a legislação eleitoral, vejo os candidatos mentindo sobre seu passado e nenhuma voz firme para contrapor os fatos.
Tudo isso vem sendo justificado através da moral do bem, que lá no passado forjou aquela convicção de que falei há pouco. Mas há de se ter cuidado aí. Todo estado absolutista começa com boas intenções, como já nos preveniu Bernando Bertolucci quando disse - “O facismo começa caçando tarados.”. Há épocas em que as boas intenções vêm embrulhadas pelo progresso, em outras pelo social, noutras pela ecologia... mas sempre há um embrulho dominante que evita de se pensar no todo e que invariavelmente mata a boa causa que outrora lhe deu origem. O embrulho que mais render votos e estabilidade no poder será a bandeira de guerra. Há claro, nosso atual presidente, que usa várias bandeiras, mas em nenhuma acredita. Usa aquela que lhe convém para manipular a platéia que o ouve, e conta com o silêncio da oposição para tornar-se virtualmente inimputável, independente dos absurdos que faça.
É no silêncio do contraponto frente à prepotência das convicções que reside a ameaça à democracia. Somente esse silêncio explica o resultado dessas eleições. O silêncio frente aos desatinos é visto pelo agressor convicto como um tiro derradeiro e correto que desferiu contra o adversário.
Quando as pessoas calam, as instituições que tem o papel de equilibrar a vida social também começam a calar. Quando as pessoas calam, reforça-se o ego de quem tombou frente suas crenças arraigadas. Quando as pessoas calam, a unanimidade se espalha e logo ninguém mais consegue pensar fora da agenda. Quando as pessoas calam, o maniqueísmo impera e as gradações entre o preto e branco deixam de existir (ou vermelho e azul, caso prefiram). Quando as pessoas calam, outras cores nem são consideradas e os debates passam a ser agendados por essa mediocridade que parece ser a única via existente.
Nesse cenário, ser combativo, fazer oposição, denunciar o mal que aí está passa a ser considerado imoral, passa a ser patrulhado. A situação no Brasil deseja não ter oposição. Para ela só há dois lados, o de dentro que deve concordar com tudo e o de fora, que deve ser eliminado. Para eliminá-lo começa “caçando os tarados”... ou dizendo que só jogou bolinhas de papel! Invariavelmente a vítima passa a ser a culpada.
Os convictos apaixonados não acreditarão nos fatos, mas nas versões. Terão alguma ponta de dúvida? Não, estão moralmente lavados pelas boas intenções. Serão somente os fracos e pouco esclarecidos que embarcarão nesse transe? Não, o poder das convicções tomba até mesmo os grandes homens, que acabam por sentir necessidade de diminuir os outros (talvez porque esquecidos que de suas virtudes).
Diante disso, o que fazer? Em minha opinião, só uma coisa: abandonar a política do silêncio.
Enfim, este texto já está longo demais, começa a parecer pregação. Não é para ser o caso. Cada um que acredite no que quiser, vote em quem quiser, escreva o que quiser. O objetivo é só o de lembrar a mim mesmo que tenho uma voz. Se lhe causa ou não algum eco, tanto faz. Até aqui já cumpriu seu papel.
2 comentários:
Gosto do teu texto, Pepe.
Mais ainda de ouvir a tua voz...
É realmente dificil falar de política, uma vez que a tendência bélica de cada um de nós quer fazer frente ao considerar o que é melhor pra todos. Lembremos então da importência da democracia...
A profundidade do teu texto é tocante e, por isso, talvez não precises demarcar em quem votastes pra não confundir com nenhum tipo de campanha.
Pra mim, particularmente, pouco interessa levantar uma bandeira, infelizmente os movimentos partidários e as discussões políticas distanciaram-se bastante do que considero "um olhar mais humano".
Voto em quem considero que, ainda assim, terá uma sensibilidade maior para tratar das questões daqueles que não tem voz MESMO, apenas isso. Mas, certamente, não acredito em Salvadores da Pátria.
Acredito na comunicação sensível e clara e na possibilidade de trocarmos olhares e pontos de vista com carinho e compreensão mútua, como o que estamos fazendo aqui...
Grande beijo!
Joana
Não concordo com praticamente nada. Ou melhor, concordo especificamente com quase tudo, mas a posição é oposta... Estranho. Gostei muito porém, ou, por isto mesmo.
Abraço!
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