sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Umbrais da Vida

Fragmentos recentes de meu diário

Porto Alegre, 9 de Dezembro de 2010.
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Como hoje estou sozinho aqui resolvi parar tudo e escrever e mesmo assim tenho de me policiar para manter a concentração.

Mas o que é isso que tanto penso? Qual o sentido disso? É esse monte de expectativas, digo a mim mesmo. Estou sendo bombardeado por elas, e em todas as áreas da minha vida, especialmente a sentimental. Quanto às outras sei que são neuras menores, breve evanescerão como se nunca tivessem existido.


Mas lá, nas entranhas dos sentimentos não há paz. Falta mesmo é um amor, a intimidade da convivência, em que recostar-se num canto do sofá é tudo que se precisa para ser feliz. Daqueles amores em que há uma mansidão com a vida, e estar juntos, seja onde for, é o bastante.

Há uma confiança, lá em algum lugar de mim, que me diz que isso também se resolverá. Mas esse meu pensar recorrente, essas expectativas que me mantém no vácuo parecem não saber disso. Elas querem esse amor para já, dizem que está mais do que na hora de viver isso.


E é só nos meus bons dias que me dou conta de que o que está acontecendo é a doce espera da vida, é aquele momento em que tudo pode acontecer, todas as possibilidades estão na árvore do universo para ser colhidas.


Nesse exato momento em que escrevo ocorre-me que talvez o que esteja acontecendo seja simplesmente a consciência de uma ausência do amor que antes ficava obliterada pela falta de permissão. Uma penúria auto-imposta pela crença de não ser merecedor da felicidade. Ninguém há para culpar, mas agora vejo os anos que passei lavrando a aridez dos desertos solitários e sinto que tenho sede! E que não há mais como adiar beber do amor e da vida. Essa é a ânsia, essa é a expectativa. Estou no umbral de saída do deserto, sentindo o vento renovado da vida, e não vejo a hora de me saciar.



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