terça-feira, 14 de dezembro de 2010

2010...

Está sendo inevitável não fazer o tradicional balanço de final de ano. Sei que nada terminou e que os movimentos da vida têm uma dinâmica própria e independente dos meus planos medíocres e do calendário, mas isso não esvazia de valor saudar o que se passou o que foi conquistado.

Pois 2010 foi o ano dos 40. Chegar nessa idade estando apropriado dela foi ótimo. Pela primeira vez na vida sinto-me com a idade que tenho. Os arroubos de heroísmo da adolescência já não me seduzem mais. Prefiro agora o ritmo do rio que corre aproveitando os relevos da vida. No fim das contas chega-se ao mesmo destino e, no mais das vezes, com menos esforço e em paz.

Foi o ano do Trabalho sobre Si. Para quem sabe o que isso significa nada cabe explicar. Para quem não sabe, basta dizer que foi um tempo de remexer no porão do Ser e tirar de lá tudo que estava mal explicado, mal entendido e fora do lugar. Há lixeirinhas que ainda estão por lá, mas agora já não temo remexe-las e, com o tempo, jogá-las fora. No tempo e espaço desse trabalho fiz novos e queridos amigos que hoje formam minha família, aquela que se escolhe para levar junto do coração para sempre.

E foram esses amigos, ao me falarem coisas difíceis de ouvir e também coisas ótimas e completamente ignoradas, que me ajudaram a entender melhor minha família de sangue. Descobri a bondade de meu pai, a tenacidade de minha mãe e a candura de minha irmã. Querê-los bem, amá-los em vida e poder dizer isso a eles foi um bálsamo, para mim e para eles.

Entrou nesse ano também a consolidação do meu novo trabalho e a compra do meu apartamento. Finalmente decidi parar de ser cigano e me estabelecer num lugar, mesmo sabendo que nada dessas coisas são tão definitivas como sempre pensei que algum dia seriam.

Neste ano não foram definitivos nem meus méritos nem meus erros crassos. Aprendi que os méritos são maiores que supunha e que dos erros, meu pior algoz sempre fui eu mesmo. Das minhas virtudes pude tomar mais consciência, dos erros, veio mais humildade e a noção de que acontecerá de novo qualquer dia desses. A diferença é que agora já acredito que tudo se resolverá no tempo certo.

Os amigos foram um dos pontos altos desse ano. Com muitos celebrei desde as estrelas no céu e as primaveras que passavam até a singela brisa que canta entre as copas das árvores. Com vários encontrei, abracei e comunguei semanalmente. Muitos dos outros sequer encontrei, e isso tão somente porque não os procurei. Dentro de meu coração seguem pulsando e tenho certeza que no deles também tenho um lugarzinho. Quando reencontrá-los será como voltar a um espaço confortável em que se sente em casa.

Também foi o ano de aprender que o amor precisa de permissão para acontecer. Trilhei pela mais miserável solidão para sentir o cansaço de me contentar com pouco. Não quero ser injusto com os amores que tive. No passado muito amei e fui correspondido. Esses hoje estão junto de mim transformados em amizades genuínas e fraternas, e assim estarão para sempre. Essa implacável solidão de que falo é aquela das tentativas complacentes de encaixar um relacionamento. Nisso ninguém é culpado e todos o são. Cada qual tentando fechar com o outro um buraco que não conhece. Passou! Aprendi! Agora só ganha meu amor e afeto quem tiver seu próprio para compartilhar comigo.

Já ia esquecendo. Foi um ano de dançar muito e desvairadamente. Quanta liberdade experimentei nesses transes inexplicáveis!

Enfim, nada há fora do lugar, nada há do que reclamar. Agora os votos. Para mim e para você, eventual leitor dos meus textos, só desejo coisas práticas. Por que no final do dia é delas que se precisa mais.

Desejo que tenhamos o silêncio necessário para ouvir a própria respiração e a batida do coração. Também as batidas na porta dos amigos que nos procuram.

Que possamos celebrar a vida em conjunto, rir e dançar muito.

Que tenhamos o fogo da paixão junto com a mansidão cúmplice do amor.

Que as avenidas da cidade e da vida não estejam tão engarrafadas, mas que se estiverem, tenhamos a serenidade de elevar os olhos para o céu e perceber a grandiosidade do universo que não compactua desses problemas menores em que nos metemos.

Que tenhamos uma vida digna e um tanto de conforto. Que possamos cultivar as amizades, a cada dia uma delas abraçar e devolver os abraços recebidos.

Que tenhamos a alegria e a tristeza nas doses certas, para saber qual é qual.

Que comece já.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Umbrais da Vida

Fragmentos recentes de meu diário

Porto Alegre, 9 de Dezembro de 2010.
...
Como hoje estou sozinho aqui resolvi parar tudo e escrever e mesmo assim tenho de me policiar para manter a concentração.

Mas o que é isso que tanto penso? Qual o sentido disso? É esse monte de expectativas, digo a mim mesmo. Estou sendo bombardeado por elas, e em todas as áreas da minha vida, especialmente a sentimental. Quanto às outras sei que são neuras menores, breve evanescerão como se nunca tivessem existido.


Mas lá, nas entranhas dos sentimentos não há paz. Falta mesmo é um amor, a intimidade da convivência, em que recostar-se num canto do sofá é tudo que se precisa para ser feliz. Daqueles amores em que há uma mansidão com a vida, e estar juntos, seja onde for, é o bastante.

Há uma confiança, lá em algum lugar de mim, que me diz que isso também se resolverá. Mas esse meu pensar recorrente, essas expectativas que me mantém no vácuo parecem não saber disso. Elas querem esse amor para já, dizem que está mais do que na hora de viver isso.


E é só nos meus bons dias que me dou conta de que o que está acontecendo é a doce espera da vida, é aquele momento em que tudo pode acontecer, todas as possibilidades estão na árvore do universo para ser colhidas.


Nesse exato momento em que escrevo ocorre-me que talvez o que esteja acontecendo seja simplesmente a consciência de uma ausência do amor que antes ficava obliterada pela falta de permissão. Uma penúria auto-imposta pela crença de não ser merecedor da felicidade. Ninguém há para culpar, mas agora vejo os anos que passei lavrando a aridez dos desertos solitários e sinto que tenho sede! E que não há mais como adiar beber do amor e da vida. Essa é a ânsia, essa é a expectativa. Estou no umbral de saída do deserto, sentindo o vento renovado da vida, e não vejo a hora de me saciar.



quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Blue skies of confidence


Hoje ao final do dia, durante minha caminhada pela Praça Japão, pude ver um pai passeando com sua filha. Ela devia ter perto de dois anos e trilhava seus passos de descoberta do mundo. No que outrora foi um espelho d´água ela experimentou caminhar pela mureta. Nada de muito arriscado, mas para quem faz suas primeiras ousadias trata-se sempre de um grande passo. Gostei de ver a calma do pai. Perto o suficiente para acudir e com a distância suficiente para mostrar confiança.

Lembrei-me de minhas próprias muretas da infância e de algumas cenas parecidas. Depois de tantos episódios familiares que passei a limpo neste ano foi importante dar-me conta de que fui presenteado com algumas atitudes semelhantes por meus pais.

Obrigado pai e mãe por essa confiança primordial e pela presença. Se nem sempre compreendi o que isso significava (e talvez nem vocês), de alguma forma está comigo em meus dias.




terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Late at night

Depois de muitas releituras de um determinado blog que me alimenta e entusiasma tô eu aqui, fumando o segundo cigarro Nevada da noite e sentindo o vento da noite entrar pela janela. Já havia decidido mudar de hábitos, but I just can´t help myself (and I don´t mean the cigarretes)!
Teclo pela quinta vez no repeat para ouvir Human, dos The Killer e depois será hora de dormir! Por enquanto, sozinho.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A bit of Gypsy Jazz to change my mood!



A semana começou boa e promissora, mas termina com expectativas frustradas! Faz parte desse carrossel da vida. Espero apreender o que vem dessa frustração.

Vai um pouco de música cigana pra tentar animar.

sábado, 27 de novembro de 2010

Rendições



Você acha brega? Eu acho, mas isso nem é tão importante. Gosto da energia declamatória da voz junto com a mensagem clara e direta da letra. Esse conjunto forma uma rendição, uma desistência. Só entende disso quem já chegou ao fundo do poço e resolve que tudo será diferente. Que a partir daí rifará seu coração à quem der mais, a procura de amor, carinho e paz.
Você já se rendeu?

Eu Vou Rifar Meu Coração
Lindomar Castilho

Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Vou vendê-lo a alguém
Não vou deixar o coitadinho
Viver sempre sem carinho
Ficar sempre sem ninguém
Amanhã mesmo eu vou sair
Sem saber aonde ir
Pelo mundo à procura
Não me interessa a riqueza
Não me importa a pobreza
Quero alguém que saiba amar
Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Vou vendê-lo a quem der mais
Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Por amor carinho e paz

Etta James - Stormy Weather



Meu amigo  Daniel considera essa a versão definitiva de Stormy Weather. Eu concordo.
Bom final de semana.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Para abrir o fim de semana



Para abrir um final de semana tranquilo e despretensioso.
Louis Armstrong - West End Blues
Aproveitem!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O silêncio da política e a política do silêncio



Este texto trata de política, um tema que não gosto de abordar pelas paixões que costuma despertar, mas evitá-lo tem me feito mais mal do que bem.

Passou-se a eleição e já sabemos os resultados. Eu votei no Serra, mas não vou aqui entrar no mérito de cada candidato porque já aprendi que essas discussões são estéreis. Não se discute as convicções de quem está predisposto a uma ou outra ideologia, partido ou, seja lá o nome que se dê a essa confusão que chamamos de política. As convicções pautam os jornais, o trabalho, a interpretação das notícias, as conversas nos bares e até as compras do supermercado. Cada opção de vida será tomada para reforçar aquilo em que já se acredita. Vale pra mim, vale pra você.

Nesses últimos meses tenho observado e tentado entender se é só isso que leva à absoluta arrogância que predomina em nossa cena política. Vejo postagens rasteiras nas redes sociais, vejo um governo incentivando a violência contra um candidato, vejo o patrulhamento das redações de jornais através avalanches de e-mails para tentar pautar suas matérias, vejo a Justiça frouxa com a legislação eleitoral, vejo os candidatos mentindo sobre seu passado e nenhuma voz firme para contrapor os fatos.

Tudo isso vem sendo justificado através da moral do bem, que lá no passado forjou aquela convicção de que falei há pouco. Mas há de se ter cuidado aí. Todo estado absolutista começa com boas intenções, como já nos preveniu Bernando Bertolucci quando disse - “O facismo começa caçando tarados.”. Há épocas em que as boas intenções vêm embrulhadas pelo progresso, em outras pelo social, noutras pela ecologia... mas sempre há um embrulho dominante que evita de se pensar no todo e que invariavelmente mata a boa causa que outrora lhe deu origem. O embrulho que mais render votos e estabilidade no poder será a bandeira de guerra. Há claro, nosso atual presidente, que usa várias bandeiras, mas em nenhuma acredita. Usa aquela que lhe convém para manipular a platéia que o ouve, e conta com o silêncio da oposição para tornar-se virtualmente inimputável, independente dos absurdos que faça.

É no silêncio do contraponto frente à prepotência das convicções que reside a ameaça à democracia. Somente esse silêncio explica o resultado dessas eleições. O silêncio frente aos desatinos é visto pelo agressor convicto como um tiro derradeiro e correto que desferiu contra o adversário.

Quando as pessoas calam, as instituições que tem o papel de equilibrar a vida social também começam a calar. Quando as pessoas calam, reforça-se o ego de quem tombou frente suas crenças arraigadas. Quando as pessoas calam, a unanimidade se espalha e logo ninguém mais consegue pensar fora da agenda. Quando as pessoas calam, o maniqueísmo impera e as gradações entre o preto e branco deixam de existir (ou vermelho e azul, caso prefiram). Quando as pessoas calam, outras cores nem são consideradas e os debates passam a ser agendados por essa mediocridade que parece ser a única via existente.

Nesse cenário, ser combativo, fazer oposição, denunciar o mal que aí está passa a ser considerado imoral, passa a ser patrulhado. A situação no Brasil deseja não ter oposição. Para ela só há dois lados, o de dentro que deve concordar com tudo e o de fora, que deve ser eliminado. Para eliminá-lo começa “caçando os tarados”... ou dizendo que só jogou bolinhas de papel! Invariavelmente a vítima passa a ser a culpada.

Os convictos apaixonados não acreditarão nos fatos, mas nas versões. Terão alguma ponta de dúvida? Não, estão moralmente lavados pelas boas intenções. Serão somente os fracos e pouco esclarecidos que embarcarão nesse transe? Não, o poder das convicções tomba até mesmo os grandes homens, que acabam por sentir necessidade de diminuir os outros (talvez porque esquecidos que de suas virtudes).

Diante disso, o que fazer? Em minha opinião, só uma coisa: abandonar a política do silêncio.

Enfim, este texto já está longo demais, começa a parecer pregação. Não é para ser o caso. Cada um que acredite no que quiser, vote em quem quiser, escreva o que quiser. O objetivo é só o de lembrar a mim mesmo que tenho uma voz. Se lhe causa ou não algum eco, tanto faz. Até aqui já cumpriu seu papel.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ausência

Primeira postagem deste ano! Estive fora do ar cuidando das coisas práticas e existenciais da vida. Nessa volta comecei mudando a cara do blog.
Até breve.